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Actividades
no passado recente de uma aldeia

 

A brief history of actions

Verses selected from the book
"Stories, legends and fables
from my Ground"

Une histoire pleine d' activités

Sélection de textes de José Ramiro Moreira
(extraits de son livre
"Histoires, légendes et fables")

 
Selecção de versos do livro de José Ramiro Moreira
"Histórias, lendas e contos do meu Chão"

 

As Fontes  -  1918 - 1966

The Mountain Springs - Water Supply to the Village
Les Fontaines

 
A Estrada  -  1951/1952

The Road - La Route

 

A Escola  - 1953

The Primary School - L'École primaire

Os Baldios  -  1975/1976

The Commons - Les Forêts
 

A Electricidade  -  1979

The Electricity - L'Electricité

Pavimentação da Estrada
e Chegada do Autocarro  -  1992

Road paving and First Bus Arrival
La rénovation de la route et l'arrivée du premier bus

 


Datas dos Acontecimentos
Date of the Events - Les Principales Dates

 

 

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OS BALDIOS
 

Zé Manel e Isilda

São vozes do tempo novo
 

1974-1975


"O Povo é quem mais ordena!"

"Os baldios para o Povo!"

O Zé Manel e Isilda,

São vozes do tempo novo!
 

Convocam, há assembleia;

Compartes, eleições já! (1)

Outros querem o nosso baldio,

A situação está má!
 

Também isso descobri.

Foi quando me veio à ideia,

Que meu pai pegou num sacho,

Meu avô foi p’rá cadeia...
 

É urgente os documentos.

Tu não sabes, eu não sei;

Fui eu a Arganil,

Pôr tudo como manda a lei.

 

Vem-me o António Pinheiro:

"Falta só um assinar!"

Fui com ele a Baloquinhas,

Onde esse andava a lavrar. (2)
 

No Correio em Oliveira,

Dissemos: “Isto não irá mal!

Viva o Conselho Directivo!

Viva o povo do Chão Sobral!”
 

Na verdade outros saíram.

Voltava-mos os dois esse dia.

Ficou Baldio por lugar,

Não a nível de freguesia!
 

E veio muito dinheiro!

Deu para alargar a estrada.

(Só não deu p'rá nossa rua!)

Deu para todas as calçadas!
 

E aos que queriam quinhão,

Na Assembleia de Freguesia,

Em acesa discussão,

O Ti’ Graciano dizia:

"O baldio está independente!

É amanhã a alvorada;

Com cem tiros de pedreira,

No alargamento da estrada!"
 

Longe as pedras caíram!

O diabo apedrejaram...

Foram vivas ao baldio,

Direcções que renovaram;
 

Foram vivas ao Chão Sobral,

As obras dentro do povo!

São vivas estes meus versos,

Às Vozes do Tempo Novo!

 

(1) Comparte, cidadão residente que usufrui do baldio. O estado entregava o baldio a quem primeiro elegesse dirigentes

(2) Era o António Silva do

Conselho Directivo eleito.

 

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A ELECTRICIDADE
 

Já nem merecia foguetes!
 

1979
 

Da parte que me tocou,

Em anos de ansiedade,

Nem merecia foguetes,

O vir a electricidade!
 

Vizinhos há anos a têm.

Faltamos nós e Avelar.

Fazem projecto comum,

Dois povos a esperar.
 

Até oficinas a motor,

Esperavam no meu Chão.

Até já havia comprados,

Moinhos de moer grão!
 

Finalmente, começaram!

E também no Avelar.

Põem lâmpadas nas ruas,

Começam logo a alumiar!

 

Foi o Ti' Manel Mendes,

Com gerador e ideias,

Que deu durante dias,

A luz às duas aldeias.
 

Avelar teve primeiro,

Pronta a instalação.

Correu logo à Câmara,

Pedir a inauguração.
 

O Presidente Saraiva,

Aceitou vir dividir,

O que a electricidade,

Fez projecto de unir.
 

Vindo ele dessa festa,

Fica então admirado,

Porque no Chão Sobral,

Encontra tudo fechado!
 

Mas bateu a uma porta,

Que não se lhe negou.

Mais tarde, festa a comer,

Já pouco nos agradou.

Agradou-me e a valer,

Os miúdos do meu Chão,

Por volta do meio-dia,

Com a candeia na mão!
 

Com pifaritos e bombo,

Zumba zumba zumba, pumba,

Chiri-bi bi bi tri ti!

Eram netos do Zabumba!
 

A luz foi dom de Deus!

Da Câmara foi a acção.

Fomos últimos e tarde,

Tardou esta gratidão!

 

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A ESCOLA
 

Nunca Vi Tanta Alegria
 

1953
 

A três ricos do meu Chão

De Aldeia mandam dizer:

Foi vos criada uma escola!

E saiu verba, para a fazer!
 

Foi no tempo do Estado Novo.

Pois nem resposta, nem passada!

Aldeia salvou o dinheiro,

Fez a escola à Estrecada. (1)
 

Paga a minha geração

Este erro do Chão Sobral.

Fora da terra e a favor,

Aprendemos poucos e mal.
 

Vinte anos quase passados.

A Câmara manda avisar:

Arranjem aí uma sala,

Vão ter um Posto Escolar!
 

Desta vez há interesse.

Até nos olhos há brilho!

Já iam longe os valores,

Chamados cabras e milho.

 

Este Posto também vinha

Para alunos do Avelar;

Mas os de lá não aceitavam,

Vir os seus, para Chão Sobral.
 

Os lobos podiam comer,

Os alunos Safra acima!

A queixa dava um verso!

Era ao Ministro, não rima.
 

Vieram medir o caminho,

Ver quem estava mais perto...

A troça, amiga mútua,

Tem graça é no lugar certo!
 

Confiantes no poder,

Gabaram-se deste perigo:

O posto ia para eles,

Com a força de um amigo!
 

Que aflição a de meu pai,

E outros homens da terra!

Foi o Sr. Gomes, de Oliveira,

Que nos valeu nesta guerra.
 

Meteu espiões e tudo!

Este Homem conseguiu isto:

Que uma amiga lhe lesse

Uma carta deles ao ministro!

 

 

 

Boca calada e pé ligeiro!

Recomendava este Amigo

Nisto até Vale de Maceira,

Se tornou outro perigo.

 

Queriam manter a sua escola,

Com os alunos do meu Chão.

Acreditou-se que o Sr. Prior,

Queria essa solução.
 

Da Reunião Municipal,

Meu pai vinha satisfeito!

O Presidente O Barbas, (2)

Tinha cortado a direito.
 

Quando vieram as carteiras,

Eu nunca vi tanta alegria!

Oh! Os vivas da Carolina!

Meu Povo chorava e ria! ...
 

Ti' Zé Moreira deu a sala.

Houve foguetes no ar!

E deitaram um no Avelar, (3)

Só para os arreliar.

 

(1) Em Aldeia das Dez,

actualmente o Posto de Saúde.

 

(2) Dr. António Antunes.

 

(3) Por lá passaram com eles a pé.

 

 

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A ESTRADA

 

I - Os Velhos Caminhos

 

1951‑53

 

Do Chão Sobral para Aldeia

Ia‑se a pé pelos Portos. (1)

Por lá se ia a baptizar,

Por lá levavam os mortos!

 

Nos bois, p’ró Vale de  Maceira

Era pelo Santo Antão.

A pé, era pelo Ribeiro,

Por onde está o pontão.

 

Da Vide, pelo Val d'Água,

Vinha a cesta do trigo.

Na volta levava os ovos,

Imaginem só o perigo!

 

Ia‑se carregado ao rio,

Para trazer a farinha.

A areia vinha de lá

À cabeça, da Ribeirinha! (2)

 

Pelo Cimo do Lameiro,

Subia‑se p’rá Malhada.

Vi transportar um doente,

Estendido numa escada!

A pé, a ponte de Alvôco,

Era mais por vida boa!

Com a mala dos meus sonhos,

Por lá passei p'ra Lisboa.

 

Imaginem estes caminhos!

Não era fácil mudar!

A Câmara, é lotaria,

Nem a ousavam jogar.

Veio sim a Floresta.

E foi uma grande mãe!

Só a nós não fez estrada,

Lá por melindre de alguém...

 

Por o Sr. Manuel Lourenço,

E mais lisboetas sem tacto,

Reclamarem em Lisboa

Umas serventias do mato. (3)

 

Mas honra lhe seja feita.

E a terra lhe seja leve.

Se Chão Sobral teve estrada,

Ao seu empenho se deve.

 

Com seu irmão e o primo,

Pedem dinheiro e coragem.

Os de cá dão em trabalho,

E o terreno da passagem.

 

 

Houve generosidade.

E engraçada reacção­.

Os mais francos no terreno

Foi o Ti’ Zé Mendes e o irmão.

 

O velho Ti’ António Alves,

Último no Colcurinho,

Ainda estava com dó

Do que era do sobrinho!

 

Lá andam  os do Chã’Sobral,

Dialhos de malfazejo!

A estragar os medronheiros,

Ó Zé do Alentejo! (4)

 

 

(1) Zona ladeira e funda.

 

(2) Troço do rio Alvôco.

 

(3) Subidas nas rampas da estrada florestal.

 

(4) José Capela, de Elvas.

 


 
 

A ESTRADA

 

II - O meu povo em cordão

 

Começou ao Cemitério,

O meu povo em cordão.

A alargar o caminho,

À picareta e enxadão!

 

Aqui desce, além sobe,

Faz‑se o muro primeiro.

Tem que levar aqueduto…

Vai abaixo o castanheiro!

 

Não quer ir a picareta;

Venha pólvora, venha gente!

E também o garrafão,

Para isto ir para a frente!

 

Ora larga, ora estreita,

É rijo, já passam bem!

Cortem nos medronheiros,

Que o velhote não vem!

 

A minha gente em cordão,

Já ouve o galo cantar…

Aonde a fraga é dura,

Faz parede a alargar.

 

Mais castanheiros ao chão!

Vai por fora do caminho!

A Câmara faz o pontão,

Estamos no Colcurinho!

 

Aqui cortem que é meu! (1)

É melhor passar por cima.

Vão buscar trinta foguetes!

É ali a Eira de Cima!

 

(1) José Mendes e irmão António Dias.

 

A ESTRADA

 

III - Os Primeiros Carros

 

Olhem o primeiro carro!!

Oh! Grande satisfação!

São os do Vale de Maceira,

Puseram paus de pontão!

 

Lá vem a Tia’ Ana Silva,

Que cativante Mulher!

Traz lá um ramo de flores,

Para oferecer ao chouffer. (1)

 

Hoje é da Ponte Nova;

Uma camioneta de carga.

Já vem cá carregar milho,

Sem a estrada ser larga!

 

Venham ver um de Lisboa!

Da F. H. d'Oliveira;

É o Ti’ Manel Alexandre!

Num camião com madeira! (2)

 

 

(1) Sr. António João Dias.

 

(2) A transitar do Norte para Lisboa.

 

 

 

          

 

    Ana Alves da Silva               Manuel Alexandre Silva

 

 

 

 

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AS FONTES
 

Água do Pinheiro - 1918

Água da Fonte da Panca - 1966
 

Trazer água para casa,

Nossa avó e sua mãe,

Só da poça do Pinheiro,

E do poço da Ferrém.

 

Mil novecentos e dezoito,

Foi um princípio e o fim.

Descobre água no Pinheiro,

O velho Ti’ Zé Joaquim.

 

O Ti’ António Moreira,

Encabeça a decisão:

O nascente é no baldio,

Deve vir para a povoação!

 

Assim teve a Eira de Cima,

Água que se deve aos dois.

E foram cinquenta anos,

Para o povo, e para os bois.

 

Tinham ido para a trazer,

Que disse um certo pato:

Se eles fossem buscar,

Antes um molho de mato!

 

Lavava-se só no Natal,

Quando não havia frio?!...

A água também é pouca

Quando chega o Estio.

 

Há anos que seca mesmo.

E o povo está a crescer!

O tal nascente da Panca,

Era tempo de o trazer!

 

Havia dinheiro junto, (1)

Que o povo tinha dado.

Era para uma escola,

Mas já a fez o Estado.

 

Dá p’rá canalização!

Diz quem sonha fontes novas.

Vamos todos abrir a vala?

Parte-se a água das sobras!

 

Um chafariz de granito,

E engenheiro a riscar,

É quanto a Câmara dá!

E que se fartou de dar! (2)

 

Tudo parecia ser fácil,

Quando surgiu um espinho.

O sentir direito à água,

A herança do Colcurinho.

 

 

 

Ficaram só seis ou sete,

Decididos ir em frente.

Faz‑se com gente de fora!

Disse meu pai descontente.

 

Começamos nós a vala.

E eu andava lá num sino!

Ia a guarda-florestal,

O meu sonho de menino!

 

Mas lá apareceram todos!

Mesmo quem dizia não.

Belo filme se perdeu,

Do meu povo em cordão!

 

(1) Depositado na Câmara.
 

(2) Disse o Presidente Figueira
a meu pai.

 

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