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António Dias

 

- VISTA BELA -

ENSAIO MONOGRÁFICO DAS TERRAS DE SEIA

 

VILA DE VIDE
 

 

D. Diniz na Vide

 

O esposo  da  Santa Rainha, tão  depressa  fazia um «cantar de amigo» ou os mais complicados cálculos para o desenvolvimento do País, como andava por essas terras em fora, cuidando dos interesses nacionais, desenvolvendo a agricultura, povoando, aumentando os réditos do Estado.    E não se quedava por essa Colimbría encantadora, pois   se   lançava  para   as   serranias,   visitando   com   a   sua «Schola»  os povos, ainda aqueles aos quais para lá chegar tinha de fazer longas caminhadas pelos desfiladeiros, defendendo-se dos lobos e de outros animais ferozes.

 

D. Diniz, como bom administrador que era, andou inquirindo das necessidades dos povos e da sua capacidade tributária, e assim, do Minho ao Algarve, que seu pai Lhe entregou, arrancado aos mouros, a sua régia pessoa foi, nessa época, vista nas mais humildes aldeias e em quási todas elas ficou firmada à sua passagem, numa casa antiga, num documento gravado no granito, num pergaminho ou numa pele de qualquer animal.

 

Vide, vila antiquíssima do concelho de Seia, tem assinalada a sua estada ali na velha «Albergaria», onde o Rei Lavrador descansou da sua fadigosa jornada, vindo do Sabugal por «Traz da Serra», quando se dirigia para a capital de então e onde anteriormente se havia encontrado com os enviados de Aragão que tinham vindo expor as condições do casamento com D. Isabel,

 

Conta-se que D. Diniz, na serra de Balocas, encontrando os pastores de Vide, fingiu ignorar o caminho para a vila e pediu que lho ensinassem.

 

Viajava incógnito, porque deste modo lhe era mais fácil escutar a voz do povo.

 

Chegada a comitiva à vila, foi o Rei recolhido numa casa da povoação, pertencente a um rico pastor daqueles que encontrara no caminho. O pastor vivia só na sua pousada e cozinhava as suas refeições!

 

O monarca não se contentara com o leite que lhe deram. O ar fino da serra, a frescura da água avivaram-lhe o apetite e pediu uma perdiz que o pastor tinha caçado no monte.

 

O serrano e bom videense, leal e franco, sem cerimónia, entregou-lhe a ave de penas lustrosas e disse:

 

«Quem a perdiz quiser comer. . . que a depene».

 

Assim, o Rei, que mostrou ser um soberano à altura, depenou e cozinhou a perdiz e saboreou a sua canja.

 

No dia seguinte, pronto para seguir para Coimbra, deste modo agradeceu ao seu hospedeiro:

 

«Rei D. Deníz

Na vila de Vide

Se perdiz quiz

Depenei e fiz;

E agora, vilão

Que tiveste o Rei em casa,

O que quizeres, diz.»

 

O pastor sentiu-se atrapalhado e gaguejou muitas desculpas, sem saber o que pedir ao seu ilustre príncipe:

 

— Que hei-de pedir, senhor meu?

— Pede, repetiu o Rei.

— Então que as nossas ovelhas e as nossas vaquinhas, dos Seixos Alvos a dentro, não paguem jugada.

 

Eis a razão porque tal imposto não era pago à Coroa pelos da freguesia e seus vizinhos, devendo existir documento, provando tal isenção, na Torre do Tombo, feito em l3l4, como no mesmo arquivo deve existir o fisco da ponte daquela vila, ponte de três entradas, gravado em couro de boi, como é tradição em Vide.

 

(...) 

 


 

 

Sítio da Casa do Povo da aldeia de Vide

http://www.casapovovide.org

 

 

 

 

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