'cartas entre amigos'

pelo progresso em Chão Sobral

 

Nos anos quarenta algumas pessoas de Chão Sobral, das quais destacamos, Manuel Lourenço, António Dias, Serafim Moreira, José Mendes Dias, José Alexandre da Silva, José Lourenço de Paula, António João da Costa e Silva, José Moreira, estiveram envolvidos na formação de uma comissão de moradores para fazer pelo desenvolvimento da terra e participaram no processo que conduziria à concretização da primeira estrada que ligou Chão Sobral a Vale de Maceira, a povoação vizinha que dista cerca de 3,5km - e depois também naquele que concretizou a criação da escola primária.

Até à criação da estrada, o trajecto era feito por um caminho pedestre que da Eira de Cima passava pelos Alqueves (Rua do Caminho Velho), descia à Boucha Longa, passava pelo Lameirinho, descia ao pontão ao Ribeiro, subia para a Ramalhosa e a partir daí coincidia com o caminho do carro de bois, que ligava os dois lugares passando pelo Colcurinho. Por montes e vales, este caminho com sulcos bem marcados, que vinha do Vale de Maceira passava pela Pedra Melheira, Bica dos Cabrizes, Quelheiros, Trás da Lomba, Lomba do Colcurinho - Almas, Ramalhosa, Barroco da Safra, Chão do Torno, Soito do Colcurinho, Colcurinho, Outeiro das Cavadas, Cavadas, Colmeias, Alqueves e desembocava na Eira de Cima em Chão Sobral, de onde seguia pelo Porto, Casa dos Bois, Loureiro, Hortas, Laranjeira, Casita da Eira, Cerejeirinha, Poiso, Barroquinho da Lomba, Lomba, Cabecito, para a Quinta da Tapada, Moinho da Volta - no Rio Alvôco, pela Ponte Medieval para Alvôco das Várzeas.

Nos textos que aqui apresentamos, a correspondência entre aqueles que se comprometeram pelo desenvolvimento de Chão Sobral, são reveladas algumas das dificuldades que enfrentaram, e como formando uma união de esforços as conseguiram ultrapassar.

 

   
   

Chão Sobral 13 de Novembro de 1947

de António Dias (Chão Sobral)
para Manuel Lourenço (Lisboa)
   

Sinde 8 de Janeiro de 1948

de António Dias (Sinde - Tábua)
para Manuel Lourenço (Lisboa)

   

Chão Sobral 8 de Novembro de 1950

de António Dias (Chão Sobral)
para Manuel Lourenço (Lisboa)

   

Chão Sobral, 14 de Novembro de 1950

da Comissão (Chão Sobral)
para Manuel Dias (Argentina)

   

(Chão Sobral) Aldeia das Dez 15/11/1950

da Comissão (Chão Sobral)
para Maria da Conceição (Moçambique)

   
   
   
   

 

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Chão Sobral 13 de Novembro de 1947

Amigo Manuel


recebi o teu postal aonde preguntavas
pelo estudo da nossa estrada
pois já falei com o senhor prior
e ele disse-me que já foi a
Coimbra para falar com o engenheiro
mas que não estava que brevemente lá
volta para tratar do assunto.
A respeito da comissão aqui não á
como soubeste quando cá estiveste
o senhor prior mandou reunir todos
os chefes de família para ver a
opinião deles e quanto davam
eu tomei apontamento duque dava
cada um e já temos 3.600$00
diz o senhor prior que e preciso 5.000$00
para o estudo por isso e que te pediramos
para também aí arranjares algum
visto andar aí muita gente cá da
terra, por enquanto ainda não
e preciso o dinheiro quando for
preciso te avisaremos.
Cumprimentos para todos os teus
teu amigo

António Dias

 

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Sinde 8 de Janeiro de 1948

Amigo Manuel
estimo que estejas de saúde e tua
família eu fico bom graças a Deus.
Escrevo-te de Sinde porque como deves
saber todos os anos aqui venho passar
algum tempo no lagar porque no
verão não tenho férias para aqui
me remeteram a tua carta e nela
vi o que dizias pois a nossa estrada
esta incluída no plano de 1950
agora o estudo é feito este ano
eu só conto ir para a terra em Fevereiro
se não ouver outras ordens depois te
escrevo o senhor prior já está informado
do que dizias na tua carta nós ainda
não sabemos ao certo quanto custa o
estudo mas se sobrar dinheiro também
sou da opinião aplicá-lo em outro melho-
ramento.
Amigo Manuel a esta hora já deves
saber que vamos ter na nossa terra
a escola ainda eu lá estava falou
comigo o senhor prior que já tinha
as coisas preparadas na Câmara
para lá ir uma comissão no dia 6 de
Dezembro afim de oferecer o terreno
aonde ade ser feita como eu já não
estava nesse dia não fui
ficou na comissão
José Mendes Dias
José Alexandre da Silva
Serafim Moreira
José Lourenço de Paula
António João da Costa e Silva
José Moreira, para a escola nada
mais é preciso que oferecer o terrado
se for na eira fundeira é quase de
toda a povoação se for em outro lado
eu mais o meu irmão oferecemos o
terrado na courela dos alqueves que
também não devia ficar mal
como sabes é também um dos grandes
melhoramentos para a nossa terra
enquanto tiver-mos o senhor prior ao nosso
lado tudo se resolve
com os meus cumprimentos
termino
dispõe sempre do teu amigo


António Dias

 

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Chão Sobral 8 de Novembro de 1950

Primo e amigo Manuel Lourenço


receberamos a vossa carta em nome da
comissão a qual só agora damos resposta
à espera que se resolvesse o assunto do
Castanheiro, no domingo fui informado
pelo feitor do sr. Dr. Vaz Pato que está
resolvido só estão á espera de acabar de apanhar
as castanhas das outras dificuldades está
tudo resolvido já se fez o aqueduto dos
quelheiros já se arrancaram os calços
mais perigosos do outeiro do meio e
também já gastaramos 4.108$00
estamos com esperanças de para Janeiro
chegar á lomba do Colcorinho
já se escreveu a D. Patrocínia
mas ainda não respondeu, mandamos
algumas direções para vós daí escreve-
rem, (2da) D. Maria da Conceição Mendes
15/11/50   Avenida Elias Garcia n.º51
                Lourenço Marques

Agostinho Mendes Duarte
51-7 Avenida S. O. 13/11/50
New York 14, N-Y
U.S.A.

Manuel Castanheira,
(2da) Guilherme Tell nº420 - Cidadela
 Buenos Aires - Argentina 13/11/50

Manuel Dias 14/11/50
Montiel, n.º3073
Buenos Aires - Argentina

O sr. Manuel Moreira de Aldeia
estão á espera de ele chegar por todo este
mês depois se fala com ele
era bom se aí tiverem algum dinheiro
mandalo que aqui vai a estar
esgotado
sem mais cumprimentos para todos

Pela comissão
António Dias

 

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cópia da carta enviada a Manuel Dias, na Argentina

Chão Sobral, 14 de Novembro de 1950

Primo e amigo Manuel Dias

Em primeiro lugar o nosso desejo de
boa saúde, que nós por cá vamos indo graças a Deus.
Tem esta o fim de levar ao teu conheci-
mento que estamos fazendo a estrada que ligará o Vale
de Maceira ao nosso Chão de Sobral, melhoramento que

nos está fazendo muita falta para a vinda aqui de um
médico e para quando aqui morre alguém, porque nos

vimos em grandessaflições quando estas coisas conte-
cem, como deves calcular.
Em Agosto de 1945 tinham-nos pedido
para arranjarmos 5.000$00 para levantamento do respe-
ctivo estudo e não podes calcular a satisfação do
nosso povo. Pouco tempo depois tínhamos aquela impor-
tancia à ordem para a vinda aqui do Engenheiro da Câmara. Depois de tantos pedidos nada conseguimos
nem o estudo.
Como a última vez que aqui veio o médico
levou à tua tia Maria Rita 195$00, dizendo que para o
criado que veio trazer o cavalo ao Vale de Maceira,
eram 45$00 e ainda por outras emergências a que estamos
sujeitos, tornava-se obrigatório tomar uma resolução
sobre o assunto e, assim, resolveu o povo nomear uma
comissão para pedir a todos o favor de nos ajudarem,
dentro das suas possibilidades, a que a estrada seja
(...?) facto.
Manuel, temos a informar-te que já fizemos
1,5 kilometro com os 5.000$00 que tínhamos para o es-
tudo faltando-nos verba para o resto. Temos arranjado
em Lisboa algum dinheiro mas tudo é pouco e todos os
homens da nossa terra dão de graça 2 dias por mez, com
tão boa vontade que tem havido dias de fazermos 200
metros.
Agradecemos que não demores a resposta a este
nosso pedido, que esperamos aceites com satisfação, pois não podemos parar com tão importante melhoramento e que tanta falta nos está fazendo.
Sem mais, recebe os desejos de felecidade e
boa saúde. Adeus até à tua resposta.

A comissão
 

 


Exmº. Snr. Manuel Dias
Montiel nº 3073

BUENOS AIRES
(Argentina)

 

 

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Aldeia das Dez 15/11/1950

Exmª. Snrª. D. Maria da Conceição

Primeiramente, desejamos que esteja de boa saú-
de, que nós por cá vamos indo menos mal, graças a
Deus.
Tem esta carta, o fim de lhe levar ao conheci-
mento, de que estamos fazendo a estrada, que ligará
o Vale de Maceira ao nosso Chão Sobral, melhoramento
este que, como sabe, nos trará grandes benefícios,
dada a rapidez com que poderemos depois mandar cha-
mar um médico ou ainda no caso de funerais, pois nes-
te caso, temos de andar por caminhos intransitáveis.
Em Agosto de 1945, tinham-nos dito que por Esc.
5.000$00, se faria o respectivo estudo das obras da
estrada, e já lá vão 6 anos, apesar dos constantes
pedidos, nada feito.
Ainda há tempos, veio à nossa terra, um médico,
que levou 195$00 pela visita, e dos quais disse, que
45$00 eram para o seu criado, por lhe ter trazi-
do o cavalo, até ao Vale de Maceira.
Desta forma, como vê, somos nós os pobres
que temos que pagar tudo e, nada disto sucederia
se já tivessemos a estrada.
Dada a precisão, que cada vez se torna mais
imperiosa e ainda pelas razões que atrás descre-
vemos, vimo-nos na necessidade de formar uma co-
missão, a fim de angariar fundos para a ajuda da
obra que tanto precisamos.
Assim, tomamos a liberdade, pelo que pedi-
mos nos desculpe, de lhe solicitarmos o seu au-
xílio, pois certos estamos que nos ajudará na
obra que empreendemos, a bem da nossa terra.
E se não abusarmos, agradeciamos que por
seu intermédio, e caso lhe seja possível, anga-
riasse, dos seus conhecimentos, mais algumas
dádivas que bastante ajudariam a nossa missão.
Srª. D. Maria, por tudo que puder fazer
em prol da obra que encetámos, agradecidos lhe
seremos por toda a vida, e certa poderá ficar,
de que, todos os beneficiados por esta tão ne-
cessária obra, nunca esquecerão, os que mesmo longe,
nunca esqueceram o lugar onde nasceram.
Agradecendo penhoradamente a sua resposta em
breve,

A Comissão


P.S.- Para seu conhecimento, informamos, de que já
temos feitos 1.500 metros de estrada, com os
5.000$00 do tal estudo que nunca foi àvante.
 

 

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Estas são algumas cartas que o Sr. Manuel Lourenço, grande impulsionador do desenvolvimento em Chão Sobral, recebeu dos seus amigos de Chão Sobral e que foram por si guardadas.

 

Foram disponibilizadas pelo Sr. António Dias Lourenço, seu filho, residente em Lisboa.

 

O nosso agradecimento por guardarem e nos fazerem chegar este testemunho.

 

 

 

 

 

 

 

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