voltar - back - retour  


UM OLHAR
PELO CONCELHO

- FRANCISCO ANTUNES -

in  "Folha do Centro"

 

É motivo de júbilo para todos, quando no nosso concelho se sucedem acontecimentos de notável valor cultural. Não é raro, felizmente, a abertura de uma nova escola, uma nova biblioteca, o lançamento de um livro ou revista e até a saída da ESTGOH dos primeiros licenciados em Gestão e Finanças.

Outra pequena - grande noticia é que, no primeiro mês de funcionamento da Biblioteca Municipal de Lagares, foram registadas oitocentas e dezasseis entradas! Na sua maioria jovens, em período de férias, que livremente, optaram por sair da rua e de suas casas e procuram um espaço novo em que aprendem e se divertem.

Sendo o nosso atraso de desenvolvimento, no fundo, de natureza cultural, começamos a ter uma ténue esperança de alcançar melhores dias. Oxalá! O bom ensino, a educação, a instrução e o trabalho são os condimentos do progresso de que tanto necessitamos. E é agradável verificar que, por todo o país, e entre nós também, os municípios apoiam e acarinham todas estas actividades. Longe vão os tempos em que as Câmaras só inauguravam fontanários, arruamentos e lavadouros...

Pois bem! No passado sábado, dia 17, apareceu entre nós mais um interessante livro que em quadras cheias de ternura, o seu autor faz a história do seu povo. É uma esplêndida monografia de uma pequena aldeia do nosso concelho: Chão Sobral, na freguesia de Aldeia das Dez. Histórias, Lendas e Contos do Meu Chão, assim se chama o simpático volume. José Ramiro Moreira - o seu autor, Quarta Classe da Escola Primaria, antigo guarda-florestal, poeta - investigador... sem dúvida, um novo "António Aleixo" das terras de Riba D'Alva. Do seu livro emanam a modéstia, a verdade e o amor à sua aldeia e às suas gentes. Mais: a coragem e a bondade de nos dar a conhecer muito, das raízes de todos nós. Como nasceu a sua aldeia, os primeiros habitantes, a arquitectura dos modestos e bonitos edifícios, a vida social, as festividades, a gastronomia, enfim... a morte e a vida. Vêem à luz de pungente saudade, as malhas, as lavras, o pastoreio, a posse dos baldios, os moinhos e o lagar. O primeiro automóvel a chegar, a luz eléctrica, a água, a estrada... as "guerras" entre carvoeiros. Tanta, tanta coisa, descrita com rigor, em constante fidelidade à verdade e constante fidelidade da sua investigação.

Quem entre nós saberá que na serra do Açor há peonias silvestres de rara beleza? Quem saberá da existência de tulipas, morangos e cerejas silvestres (cerdeiras)?

Ler pausadamente As lendas do Meu Chão, será um bom exercício espiritual, será uma visita de saudade e gratidão a cada aldeia onde os nossos avós nasceram, sofreram e amaram.

Que bom seria que este livro e outros, que felizmente têm aparecido entre nós, fizessem parte das aulas de português e história das escolas, de todas as escolas da nossa região. Seria um bom adubo para fortalecer as nossas raízes, ao torrão onde nascemos.

Está nas mãos dos Senhores responsáveis...

Termino com uma sentida quadra do grande poeta algarvio António Aleixo:

"Este livro que vos deixo

E que a minha alma ditou

Vos dirá como o Aleixo

Viveu sentiu e pensou"

FRANCISCO ANTUNES

in  "Folha do Centro"  –  25 de Setembro 2005

 

 

 

   voltar - back - retour