E a família, como vai?

 

As perguntas surgem com freqüência: Como vai a família? De onde veio?  Para onde vai? O que é uma família normal, funcional? A família é a célula-mater da sociedade? A família está em crise? Está mudando ou acabando?

 

Vamos voltar alguns milhares de anos na história da humanidade, e quem vai nos guiar nesta viagem é o biólogo chileno Humberto Maturana, um dos cientistas e pensadores mais importantes da atualidade.

 

Nesta história há cerca de 50.000 anos surgiu a nossa espécie, o homo-sapiens. Nós, os seres humanos, descendemos de uma linhagem que chegou até aqui em um movimento à deriva, de mudanças em sua estrutura biológica, em sua organização e nos inúmeros acoplamentos com outros seres vivos e com o meio ambiente. Como disse Maturana, chegamos aqui, mas não sabíamos que vínhamos para cá.

 

Somos uma espécie com uma série de características estruturais, entre elas o fato do filhote humano depender totalmente de cuidados externos para sua sobrevivência. E cuidados que duram muito tempo. E esta necessidade, inicialmente restrita à relação mãe-filho, ajudou o humano a aprender o prazer de estar junto, no cuidado com o outro(a). Além disto, nossa espécie também descobriu o prazer da sexualidade desligada do período de procriação. O convívio com o outro(a), mais do que uma necessidade, tornou-se algo agradável.

 

O homo sapiens vivia e vive dentro de um processo repetitivo de interações, que Maturana denomina de coordenação de coordenações consensuais de comportamentos. Esta expressão, inicialmente difícil de ser entendida, significa que, em uma relação, quando um ser humano se comporta de um modo determinado, o outro reage ao comportamento inicial, e em seguida dá seqüência a interação,  comportando-se de um modo que se refere ação anterior. E seguem assim, em uma dança de comunicações, sempre se referindo à comunicação anterior. Este processo de interações se tornou a principal característica humana. Uma forma de viver, que fez com que significados fossem criados para todos os comportamentos. E estes significados, por sua vez, passaram a ser também compartilhados e transmitidos. Isto é o que hoje chamamos de viver em Linguagem.

 

A necessidade de viver em grupo, em busca de ajuda mútua e proteção, cuidando das crianças e tendo o prazer do contato e da convivência, em uma interação que envolve a emoção e a linguagem, foi a origem e ainda é o determinante da forma de viver em grupo tão humana que chamamos de família.

 

E família, ao longo da história humana, nas diferentes culturas, assumiu e ainda assume as mais variadas formas de composição. Seus componentes mudam, a família fica mais ampla ou mais reduzida, inclui pessoas com laços de sangue ou não. Mas mantém a característica de ser uma organização baseada no cuidado, na emoção básica que Maturana chama de Amor.  O Amor não é um valor moral, nem uma virtude, nem algo que venha de fora, mas uma ação, uma atitude de aceitação do outro(a) como uma pessoa legítima na relação.

 

É a Biologia do Amar que fez com que o homo sapiens se tornasse o Ser Humano, e também possibilitou o surgimento dos grupos que hoje chamamos de famílias. Família é todo grupo que cuida. A estrutura, seus componentes e sua configuração podem mudar, mas enquanto a família mantiver sua organização e sua interação baseada na Biologia do Amar, nunca acabará.  E seguirá, bem, obrigado!

 

- Juares Costa

Texto introdutório ao encontro Biologia do Amar realizado no Brasil - Setembro de 2006

 

 

 

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