O CASTANHEIRO

 
 

"Pela estrada, que entre cerejais ondeia,

Uma pequerrucha, Tró-la-ró-la-rá!

Vai cantando e guiando o carro para a aldeia.

Com um castanheiro apodrecido já.

 

Castanheiro morto! Que é da vida estranha

Que no ovário exíguo duma flor nasceu,

E criou raízes, e se fez tamanha

Que trezentos anos sobre uma montanha

Seus trezentos braços de colosso ergueu?!

 

Em casal de Serras arde o castanheiro

Lâmpada de pobres a fazer serão;

De redor no grande festival braseiro,

A velhinha, o velho, o lavrador trigueiro,

A mulher, os filhos, o bichano e o cão.

 

Como não sentir um estranho afecto,

Se lhe dera a trave que sustenta o tecto,

Se lhe dera o berço onde repoisa o neto,

Se lhe dera a tulha onde arrecada o pão!

 

Fez com ele o jugo e fez com ele o arado;

Fez com ele as portas contra os vendavais;

E com ele é feito o velho leito amado,

Onde se deitara para o seu noivado,

E onde já morreram seus avós, seus pais!

 

Eis as brasas mortas... Ei-lo já converso

O castanheiro em cinza, o fumo vão, em luz...

Luz e fumo e cinza tudo irá disperso

Reviver na vida eterna do Universo

Círculo de enigmas que ninguém traduz"...

 

- Guerra Junqueiro

 

 

 

 

   

O ancestral Castanheiro da Botica no Colcurinho

 

 

 

 

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